quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Voz Fraca"

 "Nunca vira um discurso como este, cá dentro ou lá fora. Enquanto falava a voz falhou. Gaguejou e ecoou no fundo do mar. Enquanto falava a voz falhou e a criança que passeava despercebida pela praia, virada de costas para mim, para o mar, nem olhou para trás. A voz falhou, e nesse momento só se ouviu o grito da gaivota. Soluçou, não conseguiu evitar, foi sem vontade. Ouviu-se um suspiro, estava tão cansado, soou-me, a mim, a mar de Inverno, quando me gargareja as suas angústias, as suas tristezas, ao ouvido, de manhãzinha, por entre as rochas quietas. Silêncio, limos e conchas dão licença para, com certeza, se falar! A voz falhou como falha por vezes o mar forte e destemido, orgulhoso de si. Como quando ele se folga sem avisar, se vai embora, que deixa o discurso da voz sem força, e o pescador sem peixe. Nem uma âncora, estendida na sombra da costa, conseguiu ir buscá-la ao fundo, e tirá-la da desgraça. O sucedido não volta atrás, essa onda já chegou à praia. Tal discurso, tal brisa, tal susto. Enquanto falava a voz falhou, que horrível aragem salgada. Nunca vira um recital como este, de audiência ausente… pobre voz fraca."