sábado, 5 de fevereiro de 2011

Levanto-me e dorme...

 Venham crianças! Juntem-se e sentem-se, está na hora de mais uma história. Era uma vez um conto, de um conto… que nunca ousei fiar, mas que vou agora contar. Era uma vez uma anedota em que fui soldado predador, era explorador de aventuras, fui cavador de enxada e até engraxador de sapatos. Mas houve um dia em que acordei, e não me quis levantar, senti-me estranho, e quis voltar a dormir, quis dormir... E sabem o que fiz? …Adormeci…
 Chamou-se (ou queria-se chamar) de contrato à fachada mal-amada. Não falo por mim, nem pelas minhas palavras, pelos meus gestos, por nada. Verbalizo com os dedos e com as mãos, pelo menos tento, não sei bem como. Eu queria tanto dormir, mas ele nem por isso. Recostei-me, debrucei-me sem crer, ia quase caindo, quase que cai, mas será que não cai? Ecoou um som, um murmúrio, oh sim… era único, breve, e fácil de perceber! Ouvi um esbarrar, lá no fundo, lá em baixo, morreu qualquer coisa, mas não sei que coisa foi. Disse-lhe, calmamente, assim: “Ouves os teus a chamar? Sentes-me a pedir? Ouves quem se perdeu suplicar? Sentes o golpe a abrir?” Ele, somente me respondeu assim: “Eu ouço, mas não sinto nada…”.
 Mais uma vez, como tantas vezes fui o desgraçado e foi o agouro. Tantas vezes fui lá deixado e lá fiquei, desmedido e ignorado. Traído… perdoado? Talvez nem tanto… Mas quando voltei a acordar estranhei, voltei-me para o outro lado, sorri, e adormeci...


 *Está fechada a porta, oficialmente, por minha conta*

7 comentários:

  1. Cada vez melhores, sem dúvida :)
    Adorei este!

    ResponderEliminar
  2. e excelente escolha musical !

    ResponderEliminar
  3. muito obrigada pelo teu apoio :) mas eu continuo a achar que tu é que tens o dom das palavras, consegues escrever textos espectaculares exprimindo emoções que muitas vezes são difíceis de exprimir. Eu digo o mesmo em relação aos teus textos, e tenho a certeza que um dia vais ser um escritor famoso, e eu uma das maiores fãs :D

    e este texto, como sempre, está divino *.*

    ResponderEliminar
  4. bom, a impressão que fiquei do texto está um pouco longe da que me explicaste x)
    nao consegui decifrar muitas das coisas implicitas, mas está muito bom adorei :p

    ResponderEliminar
  5. Com um simples texto fizeste-me lembrar uma das muitas situações em divaguei perdida no sono.
    Acabar de acordar a meio de um sonho do qual mal me lembro, ficar com aquela sensação de corpo morto e só me apetecer voltar a adormecer par descobrir afinal que sonho foi aquele?
    Se não adormeço, fico a sensação de que, por momentos, abandonei o meu próprio corpo e não sinto nada a não ser um peso enorme, o meu próprio peso. Sinto que estou a cair, mas é apenas uma ilusão, apesar de sentir um choque quando volto à realidade.
    É nesses momentos que divago pelo pensamento, fazendo perguntas aparentemente sem sentido e respondendo a mim mesma como se de outra pessoa se tratasse.
    No fim, apercebo-me do que se passou e riu de mim própria, dos disparates muitas vezes acertados que disse e volto a adormecer quase sem dar por isso.
    Obrigada por mais um texto inspirador :)

    ResponderEliminar
  6. “Eu ouço, mas não sinto nada…”

    Excêntrico, diferente...

    ResponderEliminar