segunda-feira, 4 de julho de 2011

Diário de menina...

"Bom dia, Diário. Aqui me tens mais uma vez a escrever-te as minhas confidências, os meus desejos, as minhas esperanças. Não são muito diferentes daquelas que já te falei tantas vezes. Os meus medos, as minhas ansiedades, os meus receios. Ainda não mudaram desde a última vez que te os confidenciei.
Só que hoje vai ser diferente. Hoje não te vou contar o que se passou comigo. Não vou deixar registado mais um dia na vida de uma simples rapariga. De mais uma rapariga. Vou fazer uma coisa diferente: Vou contar-te uma história. Consigo imaginar o tempo que perdes a ler aquilo que te escrevo, e possivelmente vais perder mais algum a ler o que estará escrito a seguir, mas PROMETO que não será em vão.
Peço já desculpa se aquilo que tentares decifrar de seguida não corresponder ao que realmente se passou, tenta perceber, a memória não dá para tudo. Passo ainda a explicar que, o motivo mais provável para que só agora “te confiar o suficiente” para falar sobre este assunto ter sido o meu medo (sim, mais um) de começar uma luta que não pudesse ganhar.

Vamos lá começar então: Era uma vez, há muito tempo atrás, havia uma menina que gostava muito de um rapazinho, que vivia muito longe. Ela tentava sempre que podia estar a mais próxima possível do tal rapazinho, mas ele não queria. Ela gostava muito dele. Mas ele não gostava muito dela. Dizia que sim, e fazia-a acreditar que sim, mas lá bem no fundo do coração do rapazinho, isso era mentira.
Quando a menina começou a olhar para o coração do rapazinho, em vez do que para o que ele dizia, ela começou a perceber… Quando certas palavras deixam de ser ditas, os olhos deixam de ver a mesma coisa, a pele deixa de ter o mesmo toque, e essa pessoa deixa de saber ao mesmo. Até com uma simples expressão, uma promessa dita num tom diferente e para aquela menina as coisas deixaram de ser o mesmo.
Mas mesmo que estivesse tudo à vista à frente dela, continuou a fechar os olhos, a acreditar que o tal rapazinho continuava a ser como ela o conheceu. Continuou a acreditar que se, e só se, pudesse estar com ele mais uma vez, as coisas iam melhorar. E a menina esperou, e esperou, mas o rapazinho não apareceu. Nem nunca disse que queria que a menina fosse ter com ele.
Chegou então o dia em que o tal rapazinho disse à menina que gostava mais de uma outra rapariga. Que não a queria mais, junto a ele. Acho que posso dizer que a menina nem soube como reagir ao que o rapazinho lhe disse, se calhar nem hoje saberia. Ficou fixada apenas na ideia que queria ter daquele menino. Daquele sentimento que julgava infinito, incontrolável, imutável. A menina percebeu então que aquele rapazinho tinha morrido. Tinha morrido para ela da mesma maneira que ele lhe perfurou o coração, não deixando o seu sangue correr. Para ela, ele morreu da mesma forma que se secaram as suas lágrimas.
Era assim que a menina acordava todos os dias. Quando todos os dias acordar nem deveria ser uma opção. Quando por dentro não se quer comer, não se quer andar, não se quer continuar. Aquele rapazinho deixou a menina num estado muito mal, quando ela se apercebeu que o tempo para lutar já tinha passado. Ainda teve a bravura de lhe explicar que o ‘amava’.
E foi nesse tempo que a menina fez a si própria uma promessa. Ela disse que mais nenhum rapazinho a ia deixar assim. Prometeu que nunca mais se ia deixar levar pelo amor que não existe, pela impressão que não aconteceu. Fez força para que o que restasse do seu coração se fechasse. Para nunca mais abrir. Para nunca mais sentir aquele ‘terror’ que a assombrou durante tanto tempo. Naquele tempo não poderia dizer isto, mas essa menina estava tão enganada.
Quando te escrevo isto meu Diário, enquanto te tentei explicar toda esta história, sentia memória lá bem no fundo… Eu que nunca fui rapariga de me queixar do que não devia, mas devo dizer: “Dói muito!”. Esta é a história de quando eu fui aquela menina. De quando dei as suas passadas, fiz as suas conversas, vi os seus sonhos (e as suas tristezas). Mas enquanto doía, apercebi-me que estava lá mais alguma coisa.
Posso agora contar outra história. Quando passei de uma simples menina, a uma rapariga crescida. As pessoas deixam de ter a mesma cara, é verdade. Deixam de ter as mesmas qualidades, os mesmos defeitos… tal e qual como eu. Mas para quem acredita no destino, sabe que o coração de uma rapariga pode ser roubado se for da maneira certa. Para quem não acredita, podem chamar-lhe de coincidência. Quando o rapazinho certo disser aquelas palavras, te der aquele toque, te saber àquele sabor… então sabes que sim, pode acontecer.
Se ainda fosse a menina que fui há uns anos atrás, veria esta de pulsação de hoje, incessante, como uma doença grave. Veria esta vontade constante como um sinal anormal. Quando não se pensa em mais nada se não naquele pensamento. Quando só se escreve sobre ele ou para ele. Quando existiu a esperança para esperar outra vez. Quando se quer dizer adeus à vida que se teve, para começar uma nova. Quando se consegue perdoar, sem nunca esquecer, e se consegue confiar depois da cilada.

Bem, estou a ver que me estiquei um bocado. Mas não te esqueças, eu lá no cimo avisei que ia ser um bocado longo, e mesmo assim acho que não consegui dizer-te tudo o queria. Acho que o que quero dizer é: Não vale a pena dizer que ‘acabou’, quando na verdade, ainda agora começou. Não queria escrever a palavra “Amor”, mas quando supostamente é tão grande, tenho a certeza, que virá um ainda maior a seguir. Também sei que isto vai ser um grande cliché, as minhas desculpas por isso, mas quando dizem que “a esperança é a última a morrer”, a verdade é que isso acontece mesmo. Diário, quando acabares de ler isto deixo-te as opções em aberto. Apaga, reescreve, faz o que quiseres. Mas nunca te esqueças deste pequeno conselho, desta parte da minha vida que usei para te ajudar (não para assustar).
Até uma próxima, meu querido diário, da menina crescida que te escreve sempre que pode. Voltarei em breve para te contar como são os dias na minha vida, e como é claro, para saber como vão indo os dias na tua."

5 comentários:

  1. Simplesmente Genial.
    Se existiam duvidas sobre a tua arte, com este texto atrevo-me a dizer que em ninguém resta vestigios delas.
    Confesso que foi uma agradavel surpresa este contexto, esta forma de escrita.
    Adorei =)

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  2. este texto está mesmo lindo, está maravilhoso :) parabéns *-*

    ass: tartarugas ninja xD

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  3. não tenho palavras para descrever o quanto gosto deste texto, está simplesmente PERFEITO!!! :D

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  4. Está lindo! Amei, a serio ^^

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  5. Possuis um dom, aproveita-o bem! ; )

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