sábado, 6 de agosto de 2011

Carta Velha!

Esta vai ser mais uma das muitas cartas que vou escrever sem endereço, ou destinatário. Vai ser mais uma das cartas que ficam guardadas na gaveta da minha cómoda porque nenhum se dá à tarefa de lê-la. Vai ser mais uma carta amargurada que não vai sair da minha mão por receio da impressão alheia! A cada suspiro perdido que dê, a cada lágrima lavada, a cada olhar divagado, que o toque se torna mais incerto. O fôlego torna-se ofegante, torna-se difícil de respirar. A chuva que cai lá fora não acalenta o meu coração frágil, e a medicação não é forte o suficiente. Aqui agora, enquanto escrevo isto na minha velha secretária de madeira, as nuvens escravas cobrem o Sol que se esconde por ter vergonha. Está escuro. Mas que pena… A minha mão atraiçoa-me, faz-me engodar nas palavras pela simples vontade de não ter intenção de parar de dançar, no seu trémulo esforço para se aliviar. ‘Para trás e para a frente’. Lá fora está frio, no sopro e no soalho. As árvores movem-se com a vontade do vento, e não há ninguém na rua. Resguardam-se todos nas suas moradas… com as suas famílias… com os seus aliados, com os seus defensores… e eu fico sem saber o porquê. Vão deixar-me aqui sozinho? Deixar-me a divagar pelos poemas de amor que fui guardando? Pelas fotos que ainda sorriem? E, impressionantemente, pelas memórias que ainda me restam? Que tortura, que desalento! Saber que estão todos aí. Vocês: anónimos de caras escondidas. Tão longe de mim como a distância que afasta o vidro da janela do meu apartamento. E eu aqui continuo, como no início desta carta, como desde que disse que ninguém testemunharia esta escrita. Mas se calhar engano-me… Como tantas outras vezes na vida, não tenha aflição meu pobre coitado… quem não se importa já está acostumado!

2 comentários: